“Birras”?!
Ca em casa, a Eva anda a passar por uma fase mais delicada… Chora à minima contrariedade, bate com o pé no chão e grita assim que sente que algo vai fugir do seu controlo – ou da sua vontade!
Curiosamente, há pouco tempo, estava eu a “passear” pela net, e caio num artigo que fala nos “terrible threes” (os terriveis três). Fiquei confusa. Ainda há tão pouco tempo lia sobre os “terrible twos” (terriveis dois) e já achava a denominação demasiado dramática. Mas agora ao ver os “terrible threes” receio que afinal, de acordo com alguns autores, os nossos filhos serão terriveis durante toda a sua infância.
Mas vamos por partes. O que são “birras”? São comportamentos que surgem como resposta a uma frustração. Pode ser a frustração de ser contrariado, a frustração de não conseguir fazer alguma coisa sozinho, ou a frustração de perceber que não consegue controlar tudo. Pouco importa.
Frus-tra-ção. Tudo se resume a isto.
Nós, os adultos, somos muitas vezes confrontados com a frustração, mas ao longo da nossa longa e brilhante carreira de crianças-adolescentes-adultos que lidam constantemente com a frustração, aprendemos – com a ajuda dos nossos pais – a canalisar a energia e as tensões de forma a que possamos ser adultos “suportaveis” e integrados numa sociedade. Alguns vão ao fitness, outros correm, outros tocam instrumentos, e outros – como eu – choram. Sim sou chorona! Que o digam a minha mãe e o meu marido! Não por ser “mariquinhas” mas simplesmente porque é a minha forma de libertar tensões e frustrações. Ok, podem rir à vontade, mas esta sou eu, assim, chorona!
No entanto as nossas crianças ainda não viveram o suficiente para ter este aprendizado. Ainda não experimentaram o suficiente, ainda não tiveram “coaching” suficiente para dominar esta “gestão das emoções”.
Por isso, quando se sentem frustradas reagem de forma instintiva, arrisco mesmo a dizer “primitiva”, gritando, esperneando, atirando-se para o chão, batendo o pé, etc, etc, etc.
Mas nós, os adultos, longe de sermos exemplares, também fazemos birras, ah isso é que fazemos! Quando “amuamos” com o marido por alguma razão e decidimos que durante três dias vamos olhar de lado para o homem. Quando ignoramos as mensagens de um(a) amigo(a) porque disse alguma coisa que nos magoou, e em tantas outras situações…. isto são birras dissimuladas à moda do adulto!
E la no fundo, se pensarmos bem, quantos de nós não desejavamos às vezes reagir dessa forma instintiva/primitiva, dando um murro no parvo colega de trabalho que é um lambe-botas e que inventa coisas sobre os colegas só para ficar bem na fotografia? Quantos de nós não temos vontade de dar um empurrão-chega-pra-lá ao chefe quando ele nos trata como se tivessemos 5 anos? Não o fazemos porque ao longo da vida aprendemos outros recursos.
Mas a nossa sociedade quer crianças perfeitas, e isso é exigir demasiado das nossas crianças.
Está na altura de mudar mentalidades.
Está na altura de se parar de olhar para os pais daquela criança que está a fazer uma “birra enorme” na fila do supermercado como se fosse esperado que estes reagissem com autoridade.
Está na altura de nós, pais deixarmos de cerder a essa pressão da sociedade que quer miudos exemplares, ou mini-adultos.
Está na altura de encarar as “birras” com naturalidade, acompanhando e descorticando as emoções. E isto em nada tem a ver com permissividade!
Castigar uma birra, ou exigir que a criança pare com a birra não ensina a gerir emoções, ensina a interiorizar sentimentos que precisam sair, ensina a “engolir” frustrações e a sentir a injustiça de não vermos os nossos sentimentos valorizados por quem mais amamos.
Por tudo isto, recuso dizer que a minha filha é terrivel ou está nos “terriveis três”. A minha filha é uma pessoa em construção e cabe-nos a nós – a mim e ao pai – ajuda-la a lidar com esta coisa, as vezes tão complicada, da gestão de emoções…
Assim vai a vida…. aos olhos de uma mãe!
Gostei 😀