Haverá vida após a morte?

Haverá vida após a morte?

Sou uma mãe abençoada. Posso abraçar, beijar e admirar os meus filhos sempre que quero. Posso sentir o cheiro deles, dizer-lhes o quanto os amo e o quão importantes são para mim, a qualquer hora.

Há oito anos atrás perdi o meu pai. Foi – e ainda é – muito duro. Mas, se eu perdi o meu pai, os meus avós perderam um filho. E a dor deles incomparável.

Hoje, 8 anos depois, o desgosto está marcado em cada expressão, em cada ruga, em cada recanto da casa. A casa onde passei os primeiros 15 verões da minha vida já não é aquela casa alegre e sempre à espera que dos filhos e netos para a encher de vida. É antes uma casa melancólica onde as fotos na parede nos transportam para outros tempos. É uma casa inundada de recordações de outrora, de quando a familia ainda estava completa.

Os olhos brilhantes e sorridentes que sempre conheci nos meus avós, hoje carregam um olhar baço e triste. As gargalhadas alegres hoje dão lugar a suspiros carregados de mágoa.

Por tudo isto, e porque conheço outras mães que passam pelo mesmo, dei por mim a questionar-me se de facto haverá vida após a morte de um filho.

Vida no sentido literal claro que sim. Mas refiro-me ao sentido mais abrangente do termo. Vida enquanto dádiva. Viver.

Parece-me, a mim que estou de fora – e espero estar durante toda a minha vida – que a vida passa a ser vivida em “piloto automático”. Sem chama nem alma.

Quantas vezes não perguntará a minha avó a Deus, ao Universo, porque não foi ela no lugar do filho? Quantas vezes oferecem estas mães a alma ao diabo em troca de mais um beijo, um abraço ou um sorriso?

Uma grande amiga disse-me um dia “se pensar na perda de um filho já é uma dor insuportavél, imagina vivê-la”.

Não imagino.

Esta semana vi a sombra da morte nos olhos dos meus avós. Olhos que se iluminam para os netos e bisnetos, mas que logo voltam a mergulhar na mesma sombra amargurada de quem perdeu um pedaço de si.

Quem me dera poder arrancar-lhes esta dor do peito.

Quem me dera que houvesse uma lei universal que proibisse a morte de um filho.

Aos meus avós, à minha amiga, e a todos os outros pais e mães que vivem este pesadelo, o mais profundo meu respeito.

 

One thought on “Haverá vida após a morte?

  1. Adelaide Castanheira
    Adelaide Castanheira says:

    Amo-te e o teu pai tb 🙁

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