O nascimento do Dinis
Após ter tido um parto em Portugal, ter percebido e conseguido admitir anos mais tarde que fui vítima de violência obstétrica, dois na Suiça que me mostraram a que ponto é simples e fácil respeitar uma parturiente, desta vez parir num sitio novo era algo que me causava alguma ansiedade, mas o facto de estar bastante decidida quanto à forma como queria viver o parto do meu filho ajudou-me a conseguir controlar essa ansiedade.
Tudo começou com uma primeira contracção às 06h30 da manhã. Não era propriamente dolorosa mas era diferente das outras que vinha sentindo, e eu sabia o que essa “diferença” significava: era o dia que o Dinis tinha escolhido para nascer.
Deixei-me estar na cama mais uma hora e depois levantei-me, fui fazer croissants para o pequeno-almoço dos miudos, tomar banho.
Quando o resto da familia acordou disse-lhes que seria o dia! A ansiedade e a excitação sentiam-se no ar, estavamos todos na expectativa!
Fui fazendo a minha vida normal, fui dar uma caminhada com o marido, almoçamos, deitei-me para a sesta com o mais novo, e depois do lanche fomos com os miudos dar um passeio pela aldeia. E quando estavamos de regresso a casa, eram umas 17h30, eis que tenho a primeira contracção verdadeira, foi tão forte que me pus de cócoras e no momento achei que já não me conseguia levantar dali…
De regresso a casa, ja tinha as malas à porta, tudo preparado, fui para a bola de pilates. Fiquei ali até às 18h altura em que o meu marido e a minha mãe me dizem que está na hora de ir embora (tinham todos medo que eu parisse em casa!) e eu obedeci!
Chegamos à maternidade às 18h20. É a minha mãe quem me acompanha – já tinha sido ela no parto do Duarte e o meu marido ofereceu-lhe de boa vontade o seu lugar na sala de parto desta vez também.
As contracções estavam já com intervalos de cerca de 5 minutos e bastante fortes. Somos acolhidas por uma parteira estagiaria mas muito atenciosa. Examina-me, diz que estou com 3 cm de dilatação e faz A pergunta: “vai querer epidural?” Ora, eu sei que sofro mas que o meu trabalho de parto por norma é muito rápido por isso decidi – mais uma vez – recusar a epidural. Mas pedi duas coisas: uma bola de pilates porque não queria estar deitada, e que não me obrigassem a parir em posição ginecologica – queria parir sentada na beira da cama! Fizemos 15 minutos de CTG, e fui para a bola.
As contracções cada vez mais fortes. Concentrava-me no meu bebé, visualizava-o a descer, a preparar-se, falava com ele mentalmente e calmamente enquanto acompanhava as contracções com a respiração e os movimentos circulares da bacia.
Recebi varias vezes os parabéns da parteira por consegir gerir tão bem as contracções, mas não podemos esquecer que afinal era a quarta vez que passava por este processo, por isso estava mais que preparada.
A minha mãe não aguentava ver-me sofrer a cada contracção e chegou a perguntar-me porque não pedia epidural… mais tarde lembro-me de a ouvir dizer qualquer coisa como “meu amor, se eu pudesse tirava-te as dores todas”…
As 19h10 nova avaliação, 6 cm de dilatação e uma bolsa sob pressão. Lembro-me da parteira dizer algo como “ui, tenho de fazer isto com cuidado porque se a bolsa rompe ele nasce já!” e de ter pensado para comigo porquê que ela não o fazia, pois eu queria que ele nascesse JÁ!
Não tive coragem de voltar para a bola e deixei-me ficar ali, semi-sentada na cama. Dez minutos depois durante uma contracção a bolsa rompe e eu sinto a cabeça do Dinis a descer, e digo à parteira “ele vai nascer!” ela pede-me para esperar ao que eu respondo que é impossivel. Ela chama a colega e a contracção passa.
Logo de seguida outra contracção, faço força e sinto a cabeça a sair, “mais um pouco, dobre mais as pernas para o ombro passar” assim fiz e o Dinis nasceu, precisamente às 19h31 do dia 14 de Agosto de 2017.
O meu bebé estava finalmente no meu colo, nasceu sob o olhar atento e emocionado da Avó. Eu estava ainda atordoada com as dores, lembrava-me que o parto do Francisco tinha sido bem mais facil e menos doloroso.
Mas tinha o meu bebé no colo e naquela hora só isso importava! Dez minutos depois de nascer estava a mamar, e ficámos ali duas horas num maravilhoso contacto pele-com-pele.
Não levei pontos. Não me fizeram episiotomia, não me ralharam por não querer epidural, não me puseram a occitocina, respeitaram os meus pedidos. O toque para avaliação era importante para mim, para perceber como as coisas iam evoluindo. Foi um parto sereno e natural sem intervenções desnecessárias.
Oxalá pudesse ser sempre assim….