Leite materno na creche? Um direito só de alguns!
Este podia ser só mais um artigo a demonstrar os benefícios do aleitamento materno, mas infelizmente pretende ir muito além disso. E digo infelizmente porque nem deveria ser necessário escrever sobre isto. Mas é.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a amamentação em exclusivo até aos 6 meses de vida da criança, prosseguindo depois até pelo menos aos dois anos, e idealmente até ao desmame natural, sempre em livre demanda. Estas recomendações são para todos os bebés de todos os países do mundo e são reiteradas pelas principais entidades do mundo da pediatria, incluindo a Sociedade Portuguesa de Pediatria, que além de reconhecer que o aleitamento materno em exclusivo é o ideal no primeiro semestre de vida, refere que “é ainda desejável que o aleitamento materno prossiga ao longo de todo o programa de diversificação alimentar e enquanto for mutuamente desejado pela mãe e lactente” (Fontes no final do artigo).
Apesar disto é muito comum ver alguns profissionais que acompanham bebés (médicos de família, pediatras e enfermeiros) recomendar a introdução de alimentação complementar aos 4 meses, e até dizer às mães que o leite materno após os seis meses já não tem benefícios para o bebé, ou ainda que estas recomendações são válidas apenas para os países subdesenvolvidos. Como vimos no parágrafo anterior, estas informações estão longe de transmitir as recomendações actuais do mundo da pediatria, e podem ter um impacto negativo na saúde da criança, relembro que segundo a OMS “820000 vidas de crianças com menos de 5 anos poderiam ser salvas anualmente se todas as crianças entre os 0 e os 23 meses beneficiassem de um aleitamento materno ideal”. É por esta razão que é tão importante que mães e pais estejam correctamente informados para que possam de facto conversar com os profissionais e decidir conscientemente qual será a melhor opção no seu caso específico.
No entanto, se transmitir informações erradas acerca das recomendações e dos benefícios do aleitamento materno é grave, é ainda mais grave haver terceiros a privar voluntariamente o bebé de receber leite materno, quando a família decidiu que o que faz sentido é que o bebé seja assim alimentado mesmo na ausência da mãe.
O regresso ao trabalho é um dos maiores causadores de stress para as mães no primeiro ano de vida do bebé, e, em Portugal muitas vezes acontece antes que o bebé complete os 6 meses. Assim sendo, e para tentar de facto seguir as recomendações nacionais e internacionais no que diz respeito à alimentação do bebé, muitas mães esforçam-se por garantir que o seu bebé continue a ser alimentado com leite materno em exclusivo até aos 6 meses, e para que após este período continue a beneficiar de todas as vantagens do mesmo. Neste sentido, levam leite materno ao invés de leite artificial, para que possa ser dado ao bebé na creche.
Por razões desconhecidas, e que são na maioria das vezes justificadas apenas com “é o regulamento interno”, há instituições em que isto é negado à mãe, afirmando que naquela instituição não é permitido oferecer leite materno ao bebé, indo assim contra todas as recomendações oficiais do mundo da pediatria, e privando os bebés do forte impacto positivo que o leite materno tem claramente na sua saúde.
Neste sentido, eu e as minhas colegas da Rede Amamenta, decidimos que esta situação deve ser exposta, e até denunciada às autoridades competentes.
Assim, a Patrícia Paiva (Amamenta Setúbal) está a recolher testemunhos de famílias que tenham passado ou estejam a passar por esta situação, para então se proceder à denúncia destes casos, denúncia essa que consideramos essencial para que sejam tomadas medidas que acabem com esta forma de abuso de poder das instituições, a grande maioria públicas.
Pode enviar o seu testemunho para patriciapaiva@amamenta.net.
De forma a ajudar as mães a fundamentar a sua opção e a segurança da utilização do leite materno na creche, foi criado um folheto que será enviado por e-mail a quem o solicitar. Pode fazer o pedido aqui.
Assim vai a vida… aos olhos de uma mãe, enfermeira!