A moda do fundamentalismo

A moda do fundamentalismo

Já aqui fiz um post sobre os grupos de mães nas redes sociais, mas hoje precisei falar sobre isto novamente.

Uma das coisas que mais me chateia actualmente nos grupos de mães do Facebook, é que o fundamentalismo parece ter virado moda. E este fundamentalismo leva quase sempre ao julgamento e muitas vezes até à agressão a outras mães.

Eu tenho as minhas próprias convicções, escolhas e ideais. Tento, através da minha comunicação transmitir o melhor possível aquilo que sei, aquilo em que acredito e aquilo que me faz sentido.

Mas, é preciso ter consciência de que aquilo que me faz sentido a mim, não fará a todas as mães. Há mães que se identificam com aquilo que defendo, com aquilo que transmito, com a minha visão da maternidade e da parentalidade, e outras nem tanto. Há mães que se identificam com algumas coisas e não com outras.

Em parentalidade há muito pouco preto e branco. Os tons cinzas são mais que muitos, as nuances são infinitas. Em parentalidade há muito poucos certos e errados. Há sim, o que me faz sentido, aquilo que posso ponderar e aquilo com o qual não me identifico de todo.

Mas isso não me dá o direito de agredir quem não pensa como eu, quem não vive a parentalidade como eu, quem não concorda comigo.

Sou 100% a favor da amamentação, o Dinis tem 16 meses e ainda mama, mas isso não me impediu de lhe dar LA no biberão quando fui trabalhar e não consegui tirar leite suficiente.

Sou 100% a favor do babywearing, carreguei o Dinis desde que nasceu, mas isso não me impediu de por vezes levar o carrinho de bebé quando saíamos.

Sou 100% a favor do BLW, o Dinis começou a comer sozinho comida em pedaços aos 6 meses, e isso nunca me impediu de lhe dar sopas e papas desde essa idade.

Sou 100% a favor da comida saudável e isso não me impede de por vezes encomendar umas pizzas, ou de duas ou três vezes por ano ir ao McDonald’s com os miúdos.

Não sou fundamentalista em nenhuma das minhas escolhas, EXCEPTO a vacinação. Aí sim, não facilito e acho que é uma responsabilidade de todos.

E principalmente, tento não impor a minha visão, as minhas escolhas a outras mães. Quando uma mãe pede ajuda ou informação, tento informar, tento explicar porquê que para mim é importante fazer assim ou assim, tento transmitir recomendações oficiais quando assim se justifica, mas sempre com uma certeza: a decisão final não é minha!

Nos últimos dias tenho visto vários posts de mães com situações cujo objectivo seria relaxar e brincar um pouco, mas o que mais se viu foram ataques a quem pensa daquela forma só por ser diferente de quem comenta. Há quem não goste da mãe do Ruca e há quem a venere. Não somos todos iguais. Mas há espaço para todos e para todas as opiniões sem ter de recorrer a um tom mais agressivo ou desagradável.

Vejo agressões a mães que amamentam e são acusadas de fundamentalismos, vejo agressões a mães que não amamentam, vejo agressões a mães que decidem fazer introdução alimentar aos 4 meses e agressões a mães que decidem fazer aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses. Vejo agressões a mães que procuram ajuda, informações, ou simplesmente opiniões.

Porque aquela mãe faz de forma diferente, não quer dizer que esteja mal. E aquela mãe que procura informações que para muitas outras mães parecem básicas, pode simplesmente não ter mais ninguém a quem recorrer.

Em maternidade e parentalidade eu não preciso mostrar que a outra mãe está errada para provar que eu estou certa. A única coisa que preciso é informar-me para estar consciente e confiante das minhas escolhas, das minhas decisões.

Podemos e devemos tentar transmitir informação e dar a nossa opinião com base na NOSSA experiência e realidade, mas fundamentalismos e ataques não ajudam ninguém.

Todas procuramos o mesmo: ser a melhor mãe que podemos ser, cada uma com a sua realidade, a sua história, o seu percurso.

Vamos lutar por uma rede de mães mais condescendentes, com mais entreajuda e menos julgamento?