Amamentar dói ! Parte I
Afinal, amamentar dói?!
Dizer que é normal que a amamentação doa nos primeiros dias é errado.
Para começar acho muito importante fazermos a distinção entre “normal” e “comum”. E isto aplica-se na amamentação como a tantas outras coisas relacionadas com o bebé.
Normal, é algo que acontece e que é esperado que aconteça, sem haver necessidade de intervenção, como por exemplo, a icterícia fisiológica do recém-nascido (até certos valores, claro!). É um processo normal, na grande maioria das vezes passa sem que haja uma intervenção.
Comum, é algo que acontece com frequência mas que pode não ser normal, ou seja, pode necessitar de uma intervenção.
E é isto que acontece quando falamos de dor na amamentação. Chama-se “normal” quando se deveria chamar de “comum”.
Não existe essa coisa de “ganhar calo” como já ouvi várias vezes. Pode haver uma sensação desconhecida ao início, até estranha, mas estranho e desconhecido não é doloroso. Não é normal doer!
Amamentar NÃO DEVE ser doloroso.
Então porquê que muitas vezes dói?
Há, de facto, muitas mães que sofrem bastante nas primeiras semanas. Sofrem com dores, o bebé não mama de forma eficaz, não aumenta de peso o suficiente, as dores aumentam, aparecem gretas, fissuras, bolhas, a mãe fica desgastada e muitas vezes desesperada.
No meio disto, a maioria não têm um apoio eficaz por parte dos profissionais. Muitos profissionais de saúde têm poucos conhecimentos sobre o processo, as dificuldades e as estratégias a pôr em prática adequadas a cada situação, e rapidamente se sentem desarmados e não vêm outra solução além de sugerir a introdução de um leite adaptado.
A mulher, desesperada, cansada e em sofrimento, acredita também que é essa a opção mais razoável. Introduz um suplemento e rapidamente se apercebe que o bebé mama cada vez menos, a produção de leite é cada vez menor e daí ao desmame é um salto.
E isso é um problema?!
Depende. Amamentar NÃO É UMA OBRIGAÇÃO.
No entanto, para uma mãe que quer muito amamentar e por qualquer motivo (que desconhece) não consegue, isso pode provocar sentimentos muito negativos, como tristeza, fracasso, frustração, incapacidade, etc.
Muitas vezes, alguns meses – e até anos! – depois, estas mães ainda sentem uma grande tristeza quando falam nesta situação. Como se sentissem que falharam.
Eu gostava de dizer a todas as mães que passaram por isso, que fizeram o melhor que sabiam e podiam com os recursos que tinham, que são mães com tanto valor quanto uma mãe que amamentou durante vários anos, e até uma mãe que nunca amamentou. O nosso valor não se mede em tempo de amamentação. Mede-se em amor!
Mas então nestes casos, qual seria a melhor opção?
Sempre que há dificuldades com a amamentação, o ideal será ter um acompanhamento por pessoas que efectivamente tenham experiência e conhecimentos na área da amamentação. Há conselheiras, consultantes, assessoras em lactação, voluntárias e profissionais. Há para todos os gostos e carteiras.
Quanto vale uma consulta de apoio à amamentação?
O preço da consulta depende do profissional, e há até quem o faça de forma voluntária. Mas o valor, esse pode ser incalculável! Se o acompanhamento for realmente bom, se o profissional for experiente e a mãe estiver de facto investida e decidida, percebemos que o investimento de algumas consultas rapidamente se recupera quando olhamos ao preço de uma lata de leite (que no caso de um recém-nascido dura apenas alguns dias).
Mas é certo que a consulta vai resolver o problema?
Nada é 100% garantido. Depende de vários factores, entre eles, como já referi, a experiência do profissional e a decisão da mãe. Mas a taxa de sucesso quando estes dois factores são conjugados é mesmo muito elevada.
Então nunca é necessário introduzir leite adaptado?
Pode ser, sim. Há efectivamente situações que assim o exigem, mas são uma minoria. E quando isso acontece, se a mulher tiver o acompanhamento correcto, esse complemento será transitório.
Nos próximos artigos vou falar sobre alguns dos problemas mais comuns e que causam dor na amamentação!
Porque muitas vezes amamentar dói, sim. E isso não é normal, mas é muito comum!