Amamentação prolongada causa dependência emocional?
“Amamentar até tão tarde promove a dependência da criança, que vai crescer insegura, sem confiança, podendo ficar sujeita a depressão e até ao suicídio.”
Foram mais ou menos estas as palavras com as quais a mãe de uma criança com menos de dois anos se deparou, e foram ditas por um profissional de saúde.
Este não é, infelizmente, um caso isolado, há ainda muito quem promova esta ideia de dependência quando falamos de amamentação prolongada, causando angústia nas mães que muitas vezes não sabem ao certo se de facto haverá alguma ponta de verdade nestas afirmações, tal é a convicção com que são proferidas.
Então, afinal a amamentação prolongada promove ou não a dependência?
Não, não e não.
Uma criança amamentada seja até que idade for, não vai ser uma criança mais depende e insegura, depressiva ou com tendências suicidas!
A amamentação ajuda a promover o vínculo com a figura de apego, além de ser nutricionalmente bastante importante pelo que se deve manter pelo menos até aos dois anos, e idealmente até ocorrer o desmame natural, tal como referem as directrizes actuais da Organização Mundial de Saúde e não, isto não é exclusivamente para os países sub-desenvolvidos.
Assim, com ou sem amamentação, sabemos hoje em dia que se durante a primeira infância a criança vir atendidas as suas necessidades emocionais – de presença da figura de apego, colo, mama – esta criança irá desenvolver um sentimento de confiança em si mesma, nos outros e no mundo à sua volta. Ela será mais tarde uma criança mais autónoma e confiante pois saberá que tem a quem recorrer se se sentir em perigo, e que os seus medos e necessidades não serão desvalorizados.
Saber que sempre que precisar as figuras de apego estarão lá, saber que sempre que se sentir em perigo pode recorrer a essas figuras sem medo de ser ignorada ou ver os seus sentimentos e necessidades menosprezados, é sentir plena confiança em poder lançar-se na exploração do mundo, sabendo que terá sempre um porto seguro a quem recorrer.
Pelo contrário, uma criança que foi vendo as suas necessidades serem desvalorizadas, vai crescer com o sentimento de que é necessário ser sempre muito prudente, porque em caso de problemas não saberá se poderá ou não contar com as figuras de apego, e serão – de acordo com a psicologia do apego – crianças mais dependentes e menos confiantes. Crianças com mais dificuldades em investirem sozinhas na exploração do mundo. Isto promove o crescimento com um sentimento de desconfiança, insegurança e medo.
É por esta razão que os métodos de treino de sono (deixar chorar) são hoje completamente desaconselhados à luz da psicologia. É por esta razão que um bebé nunca ficará “mal habituado” por ter colo e atenção. Porque essas são as suas necessidades.
Então, a amamentação prolongada é mesmo segura do ponto de vista emocional?
Sim, sim e sim! É segura, recomendada e apoiada pelas principais entidades oficiais, como a OMS, as sociedades de pediatria, a sociedade europeia de gastroenterologia pediátrica, que defendem que a amamentação deve durar e ser promovida e apoiada pelos profissionais de saúde enquanto mãe e bebé assim o entenderem!
A OMS recomenda a amamentação até aos 2 anos pelo menos e idealmente até ao desmame natural que ocorre frequentemente entre os 3 e os 4 anos.
Também a Ordem dos Enfermeiros Portugueses emitiu em 2016 um parecer sobre a amamentação prolongada onde refere que:
“Após os 6 meses, de modo a suprir as necessidades nutricionais dos bebés, estes devem receber alimentos complementares seguros e adequados do ponto de vista nutricional, continuando a amamentação até aos 2 anos de idade ou mais.
A Direção-Geral da Saúde recomenda que todas as grávidas devem ser informadas sobre as vantagens e questões práticas do aleitamento materno, para uma tomada de decisão, nomeadamente: tempo de duração da amamentação exclusiva e importância de manutenção do aleitamento materno, se possível, até aos dois anos de vida.”
Assim, podemos concluir que a amamentação prolongada é segura do ponto de vista emocional e desejável enquanto a dupla mãe-bebé assim o entender. O papel dos profissionais de saúde não é questionar esta decisão, nem incutir medo ou insegurança, mas antes apoiar e acompanhar as famílias ao longo de todo o processo, independentemente da sua duração.